O Ambientalismo Não É Neutro: Um ensaio crítico sobre os caminhos para a defesa da natureza
Resumo
O ambientalismo brasileiro é atravessado por divergências profundas em suas abordagens, estratégias e concepções de mundo. Com base nas Teorias dos Novos Movimentos Sociais e do Processo Político, este artigo propõe uma síntese conceitual das dimensões simbólicas e estratégicas que configuram esse campo de disputas, a partir da construção de dois frames principais: o Conservacionismo e o Socioambientalismo. O primeiro ancora-se em soluções técnicas, na valoração econômica da natureza e em ajustes pontuais ao modelo de desenvolvimento vigente, reproduzindo uma racionalidade instrumental que evita questionar as causas estruturais da crise ecológica. Já o Socioambientalismo emerge como contraponto crítico, ao articular justiça ambiental, participação popular e a necessidade de transformação sistêmica nas relações entre sociedade, economia e natureza. O quadro teórico-conceitual desenvolvido evidencia que tais frames expressam projetos societários distintos, com implicações diretas sobre a formulação de políticas públicas e a construção de sentidos sobre sustentabilidade. Enquanto o Conservacionismo tende a reforçar a lógica da eficiência e da tecnocracia, o Socioambientalismo reivindica a centralidade dos conflitos sociais, territoriais e culturais nos debates ambientais. Conclui-se que a proposta de leitura por frames oferece uma ferramenta analítica potente para compreender a complexidade do ambientalismo contemporâneo, destacando a importância de integrar as dimensões históricas, culturais e políticas nas respostas à crise socioecológica em curso.
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